quarta-feira, junho 29, 2011

Da falta de tempo

Sem que ninguém se dê conta, acaba por se interiorizar em nós a ideia de que as pessoas que nós gostamos estão para sempre na nossa vida. Damos as pessoas por certas e vamos negligenciando as relações, vamos deixando ao abandono as pontes que nos ligam. Porque essas pessoas vão estar sempre lá, ou pelo menos é isso que pensamos. Adiamos a visita, o telefonema, o email ou a simples mensagem. Porque hoje não temos tempo e amanhã essas pessoas continuarão a estar na nossa vida. E se amanhã não nos cruzarmos, haverá o dia seguinte.
E, novamente sem nos darmos conta, acabamos por deteriorar as ligações e as relações humanas. Centramo-nos na nossa vida imediata, no agora. Deitamos culpa ao trabalho e á vida agitada que levamos. Tudo nos serve como desculpa para o facto de termos dado como certas algumas pessoas na nossa vida e, nada fazer para manter fortes as nossas ligações. Tudo serve de motivo para nos desculparmos quando somos confrontados com a perda (física ou não) dessas pessoas.
Aí, em choque com a realidade, lamentamos o tempo que perdemos com questões fúteis, com a dedicação demasiada ao trabalho ou, pura e simplesmente, com a preguiça de contactar essas pessoas. Porque, afinal de contas, essas pessoas foram dadas como certas nossa vida. Cai-nos o céu e perdemos o chão quando friamente temos de enfrentar a perda de uma pessoa que queremos bem. É assim e sempre será porque quando se gosta, dói. E a culpa de não termos tido tempo para desfrutar da companhia dessa pessoa mais um pouco atinge-nos como um raio. Assim do nada, somos fulminados. E dói. Dói para caramba mas só terá efeito em nós naqueles instantes mais próximos. Vamos enfiar a cabeça nas muitas coisas que temos para fazer, nos muitos sítios onde precisamos ir e não iremos desfrutar das pessoas que nos fazem bem.
Confesso que tenho medo de perder as pessoas que quero bem. Tenho medo da efemeridade das relações inter-pessoais e humanas da actualidade. Tenho medo do abandono a que votamos as pontes que nos ligam aos outros. No fundo e da forma mais sincera, tenho medo de vos perder sem ter tempo para vos dizer novamente o quanto vos gosto.