quarta-feira, setembro 21, 2005


"Gosto de te ver a rir e a brincar, gosto do teu cheiro e do teu olhar, gosto de te ter sempre perto e de sentir que tudo está certo, de saber que afinal vale a pena acreditar que um dia a paz acaba sempre por chegar, que não há esperas vãs nem dias perdidos, que todas as manhãs estão cheias de ti, meu amor, quero-te, quero-te, quero-te.
Por isso abre as mãos e o peito, deixa-me ficar para sempre lá dentro, guarda-me em ti e espera sem esperar a cada dia que passar, que este meu amor imenso, doce e intemporal resista ao tempo, resista ao medo, resista ao mundo, resista a tudo e não precise de mais nada a não ser de TI, tu que és princípio e fim, que estás no meio de tudo, que atravessas a vida de mão dada comigo, tu de quem eu gosto, gosto, gosto."
Excerto da Crónica "Gosto"
Pinto, Margarida Rebelo.As Crónicas da Margarida.Oficina do Livro;Lisboa 2000.

sábado, setembro 17, 2005


"As planicies que me acalmam..."
Muitas são as pessoas que para se sentirem bem gostam de se sentar a ver o mar, a olhar o céu, a lua, as estrelas... eu não sou excepção mas, aquilo que na verdade me acalma, que me "alimenta" o equilíbrio, que me faz manter alguma sanidade mental, são as planícies do Alentejo. Talvez por ter crescido em pleno coração do Alentejo, talvez porque nos transmitem imensidão, nos transmitem calma ou pura e simplesmente porque nos proporcionam um quadro visual lindo.
Sempre que a minha vida se transforma num labirinto do qual não encontro saída, numa equação da qual não consigo resolver a incógnita é este o meu refúgio. Sentar-me num sítio calmo, o silêncio que impera nestes campos e só eu...eu e toda a vastidão deste Alentejo. Muitas são as vezes que encontro as respostas que preciso a olhar para este infinito mágico que se transforma ao longo do ano. Às vezes é um "mar" verde que nos presenteia com a sua presença, meses mais tarde...é uma vastidão de campos dourados, que ao sabor do vento balanceiam as culturas...
É este vento mágico que dança nos campos dourados que leva as coisas que nos chateiam mas, é também neste vento que chega o equílibrio que preciso.
É nestas planícies que também vivo os momentos de alegria. É fantástica a sensação de poder correr por estes campos, é o sentido de liberdade que nos invade, é uma sensação magnífica de bem estar, parece que temos ao nosso alcance todo o mundo, que tudo nos pertence, que vamos conquistar tudo e todos. Sorrimos e invade-nos o querer transmitir a todas as pessoas essa felicidade...
Se algo me agita, me inquieta, a solução para ordenar as idéias é....pegar no carro, um bom cd e conduzir por esses campos fora até encontrar um sítio onde parece que mais nada existe.
Aí sou só eu e toda a imensidão do "meu" Alentejo.....

segunda-feira, setembro 12, 2005


Rir é arriscar a parecer parvo
Chorar é arriscar a parecer sentimental
Procurar alguém é arriscar-se a um compromisso
Expressar sentimentos é arriscar-se a ser rejeitado
Mostrar sonhos perante a multidão é arriscar-se a fazer o ridículo
Amar é arriscar a não ser correspondido
Ir para a frente contra ventos e marés é arriscar o fracasso

Mas é preciso correr riscos
Para evitar o maior risco de todos: Não arriscar nada!

Quem não arrisca não faz nada
Talvez evite o sofrimento e a dor
Mas não pode aprender, sentir, mudar, crescer ou amar.

Amarrado por estas certezas, é um escravo
Confiscou a sua liberdade
Só quem arrisca é livre!

MEXIA, Catarina; "Arriscar o Amor"; XIS; Pýblico, 23 de Out. 2004
Fotografia: "Getting There" by Miguel Torres

quinta-feira, setembro 01, 2005


"As sapatilhas da bailarina parecem sempre grandes quando ela tropeça..."
Fecho o os olhos, embalada numa melodia calma e harmoniosa e começo a imaginar todo um novo mundo, toda uma nova envolvência em redor da vida e do sentido que esta leva.
Primeiro surgem imagens a um ritmo alucinante, não fazem sentido algum. Depois, a pouco e pouco começa a surgir uma certa coerência nestas imagens loucas, o ritmo torna-se mais lento e como que se trata se uma história.
Uma história, mas não uma história qualquer.A história da bailarina em pleno palco da vida, uma história comum a todos nós ainda que nem sempre a peça que se dança seja a mesma.
Neste palco temos não temos hipóteses para ensaios, não há oportunidade para falhar. Temos que ser bons bailarinos sob as luzes deste palco, em frente a uma plateia cada vez mais exigente e mais implacável. Uma plateia que está sempre atenta a todos os passos deste estranho bailado da vida.
Só há uma fase em que nos é permitido um pequeno ensaio, onde os passos indecisos são permitidos porque o pequeno bailarino é engraçado a tentar dançar. É assim na infância. Não imaginamos o que está para além da fantasia do nosso pequeno mundinho, damos os primeiros passos desta peça musical e todos nos aplaudem. Mesmo que dancemos mal, somos engraçados e por isso nos aplaudem.
Porém, não pode ser sempre assim. Crescemos, ficamos curiosos e queremos ir mais além, saber mais...enfim, dançar melhor e fazer com que as luzes do palco se voltem para nós. Ás vezes conseguimos sozinhos, de outras vezes conseguimos com a ajuda de outros bailarinos. Afinal também eles cresceram, ficaram curiosos e querem dar à exigente plateia o melhor do seu bailado, do nosso bailado.
Perguntam-me quem são esses bailarinos, se são pequenos anjos caídos do céu só para nos ajudar. Não sei, não sabe ninguém se serão anjos mas, um tesouro dos mais valiosos são com toda a certeza. Esses pequenos bailarinos que tantas vezes nos dão as mãos são aquilo a que chamamos de amigos.
Quantas e quantas vezes brilhamos lado a lado desses bailarinos fantásticos?Quantas e quantas vezes fazemos de tudo para que possam fazer a melhor dança possível? Mas às vezes tropeçamos num passo mais díficil. Outras vezes o compasso da música parece-nos lento demais para a nossa ânsia de brilhar e....tropeçamos. Aí os aplausos não soam, as luzes não brilham...as nossas sapatilhas fizeram-nos tropeçar. Os seus laços ficaram laços e quando mais precisávamos ....tropeçamos.
Continuo de olhos fechados, continuo a sonhar no meu mundo da música e dos bailados.
A um canto do palcouma bailarina tenta apertar as suas sapatilhas para recomeçar a dançar. Tenta e volta a tentar mas não consegue com que as suas pernas, os seus braços lhe obedeçam... Num passe de mágica, no instante de um sorriso, surge no palco da sua vida um bailarino que dança como ela nunca viu. Parece-lhe pura e simplesmente o melhor. Os movimentos deste bailarino são leves, feitos com uma enorme delixadeza e a melodia...a melodia que o acompanha....é....é maravilhosa.
Aos poucos ela ganha de novo a alegria de dançar, o seucoração volta a bater mais forte e o medo de tropeçar esvai-se numa nota melódica. Começa uma dança a dois que só eles conseguem entender, as luzes começam a voltar-se sobre eles e brilham. Brilham como nunca brilharam antes e são efusivamente aplaudidos.
Não se entende muito bem porque os aplaude aquela exigente plateia, afinal....dançam uma música só deles, num ritmo só deles, num palco só deles...num mundo só deles.
De repente....o "pair (?) de deux" mais mágico que jamais ela formara acabou... o bailarino deixou-a a dançar sozinha. Foi-se e com ele levou-lhe o brilho do palco, o calor dos aplausos, a vontade de dançar nesta dança da vida...
As fitas das sapatilhas ficaram laças, as sapatilhas caíram e .....e eu tropecei....