sábado, julho 30, 2011

O calor da saudade

Os ponteiros do relógio pareciam não andar apesar do irritante "tique-taque" ecoar pelo vazio do quarto. Tentava ignorá-los, dar uma reviravolta na cama, fechar os olhos, esquecer e dormir.
Lá fora, instalava-se lentamente o negro da noite mas o silêncio lá de fora tornava ensurdecedor o barulho cá de dentro. Tornava ensurdecedor os ponteiros do relógio e o bater do coração que batia cada vez mais forte num ritmo descompassado. E, de repente, parecia que a cabeça estava prestes a explodir com o cansaço, os ombros iriam ceder sob o peso do mundo que carregava.
Talvez fosse do intenso calor que se fazia sentir, que estava a sufocar. Queria respirar mas os pulmões pareciam não conseguir.Qualquer coisa a estava a impedir de respirar, sentia um peso enorme no peito. Era aflitivo e agoniante. Não existia uma leve brisa sequer, fazia sentido que fosse o calor a pregar-lhe uma partida.
O seu olhar não tinha o brilho de outros momentos e os lábios não conseguiam expressar o mais leve sorriso. E aquele peso no peito que teimava em sufocá-la... fazia doer e magoava demais. Magoava tanto que os seus olhos ficaram maiores, brilharam e acabaram por ceder. Libertaram as lágrimas que tentaram serenar o coração. O coração não serenou, o peso sobre os seus sombros não se tornou menor. Não foi uma partida do calor. Não era o calor que a estava a sufocar, eram as saudades e a desilusão.

Sem comentários: