quinta-feira, julho 01, 2010

Do Amor

(Google images)

Hoje as relações constróiem-se, regra geral, em aparências e interesses mútuos. Já não creio no amor, naquele Amor sincero, puro e sem interesses que vive e une duas pessoas por si só. Aquele amor que está presente nos mais pequenos gestos e revela imenso nas dificuldades da vida.
Porque no amor verdadeiro não podem existir arrependimentos. Contaram-me outro dia que havia alguém arrependida da escolha que tinha feito. Tenho a dizer a isso... bem feita (bitch, eu disse que isso nunca resultaria)! Encontro aí um amor de interesse onde o dinheiro fala mais alto, onde a felicidade e o cuidado para com o outro não são primordiais. Temos pena. Temos pena que existam pessoas capazes de viver assim só porque têm de manter a imagem que criaram. Pessoalmente, seria incapaz de viver assim mas cada um sabe de si.
A T. casou há pouco tempo, a S. comprou casa e vai dividir o resto dos seus dias com a pessoa que mais ama num espaço deles, a R. está casada de fresco e na sua casa também, a G. casou e já tem dois pimpolhos lindos de morrer. E o N? O N. que eu sempre pensei que não iria "atinar", está no seu palácio com a mulher da sua vida e mais feliz do que nunca. Irradiam felicidade e quero muito que realmente sejam as pessoas mais felizes do mundo. Porque elas, tal como eu, acreditam nesse amor escrito em maísculas. Quero ver-lhes o sorriso no rosto todos os dias porque são minhas amigas e porque acredito que não se acomodariam a uma relação só porque sim. São mulheres fantásticas, independentes e lutadoras que nunca ficariam numa relação por dinheiro, estabilidade ou aparências. Tenho amigas fantásticas que só pelo simples facto de viverem a sua felicidade em pleno, de lutarem por ela me fazem crer que ainda há pessoas capazes de amar.
Um dia já fui capaz de amar assim. Quis acreditar que conseguia construir uma relação onde esse amor bastaria para nos fazer lutar por tudo o resto. Eu que acredito no amor na sua mais pura essência conseguia. Porque tive o exemplo do que é amar a sério. A avó A. e o avô L. tinham um amor desses que só vemos nos filmes. Amavam-se e respeitavam-se como se o outro fosse a mais bela coisa que tinham. O avô L. esteve sempre do lado da avó A. e cada gesto que tinha para com ela, além de a cuidar, transbordava de amor e carinho. A avó A. (mais resigona) recebia cada carinho como o melhor presente e isso notava-se no seu olhar. Acho até que o facto de deixar o avô tratar dela era um gesto de amor. A doença cedo deixou marcas na avó A. e nem por isso o avô L. se tornou uma pessoa amarga ou desiludida. Muito pelo contrário. O avô L. foi exemplo de vida. Lutou sempre para manter em segredo a sua própria doença e cuidou da avó A. com todo o amor enquanto conseguiu. Gostava de ver como cuidavam um do outro. O carinho com que se tocavam e se olhavam. Nunca ouvi os avós a discutir. Tinham os seus arrufos como qualquer casal, ás vezes estavam menos bem dispostos como todas as pessoas mas estavam sempre lado a lado. Os avós viviam aquele amor em que somos iguais, onde caminhamos lado a lado para nos podermos ajudar mutuamente.
E um dia tive a ousadia de querer um amor assim para mim. Quis com tanta força, com tanta vontade que o meu amor por outra pessoa quase era tangível. Quando estava lado a lado com essa pessoa quase podía tocar no amor que sentia.
O dia mais triste da avó A. foi sem dúvida nenhuma o falecimento do avô L. . A nós doeu muito mas a avó A. foi quem mais sofreu com a sua partida. Foi a despedida do companheiro de toda uma vida. Vida essa onde muitos momentos foram bons, onde muitas dificuldades venceram mas onde se amaram completa e plenamente. E deve doer muito perder a pessoa que mais se ama para nunca mais a poder ver. Ainda hoje os olhos da avó A. brilham quando fala do avô. Emociona-se como se revivesse em segundos toda a felicidade que partilhou com o avô L. A partida do avô L. é como uma ferida que nunca irá sarar no coração da avó A. . E o amor verdadeiro é assim. Eu quis amar assim. Acho que consegui. Se o mereceste? Acredito que sim porque o amor não se joga fora. Se voltaria a dar-te o meu amor? Não. Não o soubeste valorizar.
A C. confrontou-me e disse-me que eu estava magoada e não me deixava viver. Errado. Eu estive magoada. Agora estou só descrente nas pessoas. Acredito apenas em mim e isso basta-me.

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